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2 DE ABRIL DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO DO AUTISMO

By 31 de março de 2020fevereiro 21st, 2022No Comments

De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC) 1 em cada 54 crianças tem o diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Isso mesmo,1 em cada 54 crianças! Isso quer dizer que provavelmente você tenha um vizinho, colega de trabalho, familiar ou que seu filho tenha um amiguinho na escola com TEA. Por isso temos uma necessidade urgente de falar sobre o assunto, de nos preparar cada vez mais para lidar com as diferenças e aprender a nos relacionar com respeito e compreensão.

Na maioria dos casos são pessoas com dificuldades significativas no relacionamento interpessoal e na comunicação, além de apresentarem alguns comportamentos peculiares, como: tendência a estabelecer rotinas, necessidade de realizar ações sempre da mesma maneira e fazer alguns movimentos repetitivos com o corpo (por exemplo, balançar o tronco ou as mãos). Em geral recomenda-se que sejam iniciadas as intervenções terapêuticas o quanto antes (quando detectada uma suspeita nos primeiros meses de vida, as intervenções se iniciam enquanto ainda são bebês). A família costuma dedicar muito de seu tempo e de sua reserva financeira para proporcionar as melhores oportunidades e aproveitar cada momento para a estimulação de uma série de habilidades que, nestes casos, não se desenvolvem naturalmente.

Os resultados da dedicação intensa da família e da equipe terapêutica são observados em todos os casos, considerando-se sempre os objetivos e as possibilidades individuais. O trabalho conjunto tem a finalidade de promover o máximo de independência e autonomia possível ao indivíduo. É preciso conscientizar a sociedade como um todo para que as habilidades aprendidas nas situações mais controladas em contextos terapêuticos também possam ser estimuladas no dia a dia de cada pessoa, nos ambientes naturais e com a comunidade com a qual convive.

Isso parece simples, não é mesmo? Mas na prática infelizmente ainda estamos engatinhando nesse sentido. Apesar do movimento constante para a disseminação de informações, a sociedade ainda desconhece e, por isso, tende a repelir o que é diferente. Autismo não tem cara, raça ou classe social. O número de pessoas diagnosticadas vem aumentando ao longo dos anos. As crianças estão nos parquinhos e nas escolas. Tornam-se adolescentes com o desafio da participação no grupo de amigos. Quando possível, entram na faculdade e chegam à vida adulta e ao mercado de trabalho, ao seu lado!

A terapia baseada na Análise do Comportamento Aplicada tem como objetivo a aquisição, a manutenção e a generalização de repertórios aprendidos, ou seja, todo o esforço e todos os ganhos que conquistam só serão de fato eficazes se fizerem sentido na vida real, na vida além do consultório e além da equipe terapêutica. Um dos objetivos é que essas pessoas consigam aprender o novo vivenciando experiências. A esses aprendizados damos o nome de generalização, que é um dos maiores desafios na intervenção com pessoas com TEA.

É fundamental que a generalização dos comportamentos adquiridos em intervenções seja planejada por meio da repetição da aplicação do procedimento em outros ambientes para os quais se deseja que a mudança comportamental se estenda. Crianças com TEA podem aprender diversas habilidades, desde que haja uma cuidadosa programação de interações com o ambiente. Variar as brincadeiras, as instruções, os pedidos e até mesmo o tom de voz são dicas importantes para atingir este objetivo. Ainda nesse sentido, o mesmo pode ser feito com diferentes pessoas e em diferentes ambientes.

Você pode estar se perguntando agora: “Mas por que preciso saber sobre isso?”, “Qual o meu papel ou das pessoas que conheço, já que não temos uma pessoa com o diagnóstico de TEA na família?”, “Não cabe somente a eles o acesso às terapias e assim tudo ficará resolvido?” A resposta é: NÃO! Para desenvolvermos uma sociedade inclusiva não podemos nos preocupar com uma questão somente quando ela bate a nossa porta. É preciso desenvolver recursos para que possamos lidar com a diversidade, fornecer ferramentas para que cada pessoa possa dar e receber o que tem direito de sua comunidade, para que possa ser e existir em um grupo e ter as possibilidades para manter seus progressos.

É nesse sentido que precisamos criar cada vez mais oportunidades para trocas e inclusão de pessoas com TEA levando em consideração suas necessidades individuais, principalmente através da disseminação de informações sobre o assunto. Incluir não se trata de apenas permitir a permanência em determinado grupo, mas criar as condições adequadas para que possam ali vivenciar de fato as experiências considerando suas necessidades individuais. Nesse ponto voltamos novamente à importância da generalização que, por um período, foi considerada como um fenômeno passivo, uma consequência natural de qualquer processo de mudança comportamental. Isso não ocorre em pessoas com autismo.

A prática atual considera o planejamento prévio de estratégias para garantir a generalização e deve considerar a escolha de comportamentos relevantes para o sujeito e que sejam naturalmente reforçados no ambiente natural. Ou seja, é preciso ensinar determinados comportamentos para as pessoas com autismo que façam sentido no seu cotidiano, que sejam realmente úteis, funcionais e que a rede de pessoas que convivem com elas irá manter a longo prazo. É muito importante que sejam especificadas quais variações de tal comportamento são esperadas, bem como os ambientes e situações nos quais isso deverá ocorrer após o ensino ter sido finalizado.

O uso das estratégias da Análise do Comportamento Aplicada em conjunto com pais, cuidadores, professores, colegas de trabalho ou qualquer outro grupo de pessoas devidamente instruídos que conviva com pessoas com TEA, produz resultados efetivos em vários ambientes. Deste modo, a efetividade e sucesso da intervenção dependem não somente do ensino de repertórios pelo terapeuta, mas também da consistência com que todos na vida do indivíduo se envolverão e darão continuidade a isso, quando programados em conjunto.

 

Referências

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6. Corsello, C. M. (2005). Early intervention in autism. Infants & Young Children, 18(2), 74-85.

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8. Green, G. (2001). Behavior analytic instruction for learners with autism: Advances in stimulus control technology. Focus on autism and other developmental disabilities,16(2), 72-85.

9. Klin, A., Chawarska, K., Rubin, E., & Volkmar, F. (2006). Avaliação clínica de crianças com risco de autismo. Educação, 58(1), 255-297.

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11. Lafasakis, M., & Sturmey P. (2007). Training parent implementation of discretetrial teaching: effects on generalization of parent teaching and child correct responding. Journal of Applied Behavior Analysis, 40(4), 685-689.

12. Lovaas, O. I., & Smith, T. (1989). A comprehensive behavioral theory of autistic children: Paradigm for research and treatment. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 20, 17-29.

Cintia Perez Duarte

Psicóloga, Mestre e Doutora em Distúrbios do Desenvolvimento, possui qualificação avançada em Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro do Autismo e atraso no desenvolvimento. Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Análise do Comportamento aplicada ao Autismo e outros Distúrbios do Desenvolvimento, na NEPNEURO – GO. Sócia fundadora e diretora da NEXO Intervenção Comportamental, atuando com pessoas com transtornos de desenvolvimento e com intervenção de indivíduos com distúrbios alimentares pediátricos. Realiza supervisão de profissionais, além de palestras e cursos relacionados à Análise do Comportamento Aplicada (ABA).

Nexo Intervenção Comportamental